Na noite do dia 28 de abril, Rodrigo Rocha Loures, assessor especial do presidente Michel Temer, foi flagrado saindo da tradicional pizzaria Camelo, em São Paulo, com R$ 500 mil repassados por um executivo da JBS. O vídeo do homem de terno quase correndo com a mala preta de rodinhas, jogada no porta-malas de um táxi, foi ao ar na TV Globo em 18 de maio, dias depois de o Jornal Nacional fazer balançar a cabeça de Temer com trechos da gravação de Joesley Batista. Rocha Loures é citado pelo presidente na conversa com o dono da JBS como a pessoa que poderia resolver um problema da empresa no Cade – o órgão que regulamenta a relação entre as empresas no país.
O presidente não caiu, mas sua popularidade chegou ao chão enquanto crescia o poder das bancadas ruralista e evangélica, base de apoio de um Congresso que o livraria de responder a acusações de corrupção na Justiça, enquanto aprovava leis para regularizar terras de grileiros, reduzir reservas ambientais e retirar garantias constitucionais de indígenas e trabalhadores.
Ainda nesse outono, homens armados atacaram os índios Gamela, no Maranhão, e policiais civis e militares mataram dez trabalhadores rurais em Pau d’Arco no Pará. Os 17 policiais envolvidos na chacina foram soltos pela Justiça no último dia 19 de dezembro. Ninguém foi punido pelo ataque aos Gamela.
O Pará e o Maranhão estão entre os estados que concentram o “deserto de notícias”, de acordo com o Atlas da Notícia, levantamento que fez furor entre os jornalistas este ano ao revelar que 70 milhões de brasileiros vivem em áreas com menos de um veículo de imprensa para cada 100 mil habitantes.
É por isso que, desde sua fundação, a Pública dedica especial atenção à Amazônia, aos conflitos rurais e às populações vulneráveis a violação de direitos humanos por empresas, por governos, por instituições.
Neste ano, cobrimos da invasão policial à Cracolândia, em São Paulo, às vítimas dos tiroteios e da violência policial nas favelas do Rio de Janeiro. Falamos com as mulheres pobres que tiveram seus filhos arrancados pelo Estado em Minas Gerais, denunciamos como feminicídio o assassinato de Eliza Samudio e medimos a violência doméstica no país, colocando o Pará – de novo – no topo do ranking. Investigamos os serviços de segurança privada, os programas de proteção a adolescentes jurados de morte, os incêndios nas favelas, a infiltração de policiais em movimentos sociais, a vigilância do Estado, a privatização das praias, as agressões aos terreiros e praticantes de candomblé e umbanda, a corrupção nos serviços de ônibus do Rio de Janeiro, as condições precárias de moradia em São Paulo.
E não deixamos os poderosos em paz – do cartel dos empresários de ônibus aos acordos espúrios das mineradoras com o Estado para reduzir a responsabilidade que lhes cabe pelo acidente socioambiental de Mariana. Das vítimas dos atropelamentos do trem da Vale no Maranhão aosnegócios suspeitos do ministro do STF Gilmar Mendes, no Mato Grosso, além do conluio dos deputados-empresários pela aprovação da reforma trabalhista. E checamos implacavelmente os discursos de autoridades e personagens públicas.
Escrevemos perfis saborosos e reveladores sobre os figurões da República e os pré-candidatos à Presidência. Multiplicamos a produção de vídeos, culminando com o especial “Amazônia Resiste”, sobre a luta dos indígenas para manter suas terras e sua cultura em um momento politicamente ainda mais desfavorável a essas populações. Esse especial, com dois episódios divulgados, continua no ano que vem.
Também nos juntamos e reforçamos os laços entre os que valorizam o jornalismo investigativo, independente, inovador – 3i, como foi batizado o festival que reuniu oito organizações nativas digitais para refletir sobre caminhos e dilemas que enfrenta o jornalismo – mais necessário do que nunca.
Por fim, com muita alegria no coração, recebemos o apoio de 1.134 pessoas no Reportagem Pública 2017, nosso projeto de crowdfunding para financiar oito grandes reportagens com temas eleitos pelos apoiadores.
É com esse capital de carinho e união que decolamos para 2018, ano de eleições.
Estamos juntos por um Brasil mais justo. Feliz ano-novo!
Reportagens mais lidas
1º. Como nasce o prensado
Flagramos diversos problemas na colheita da maconha paraguaia que podem afetar a saúde do usuário; como o mercado é ilegal, até erva estragada é enviada para o Brasil.
2º. Meu nome não é Sininho
Três anos depois de estampar capas de jornais e o noticiário de TV acusada de liderar os adeptos do black bloc, Elisa Quadros recebeu a Pública para uma longa entrevista sobre as prisões, as ameaças e os traumas que ainda tenta superar.
3º. Truco: Globo não repassa só 10% do Criança esperança
Corrente do WhatsApp faz interpretação errada de documento vazado pelo WikiLeaks em acusação contra a emissora.
4º. Venezuela sem Fake News
Esqueça muito do que você leu por aí: não há catástrofe humanitária nem Maduro está para cair; mas há manifestantes quase todos os dias nas ruas, e eles não são “terroristas”, como dizem os apoiadores do governo.
5º. Fugi e Fiquei Viva. Minha filha enfrentou e morreu
Em entrevista à Pública, Sônia narra a história de violência que marcou sua vida e a de sua filha, Eliza Samudio, vítima de feminicídio – um crime que mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil.
6º. Truco: exageros e imprecisões marcam caravana de Lula
Ex-presidente defendeu desempenho de governos petistas em áreas como educação e economia, mas cometeu deslizes na maioria das informações checadas.
7º. O psicanalista das massas
A maior liderança dos movimentos sociais é um filósofo e psicanalista que vive na militância desde os 15 anos. Conheça Guilherme Boulos, 34 anos, e entenda por que o MTST dobrou de tamanho em quatro anos.
8º. Destrinchando a Maconha Paraguaia
Nosso repórter passou 15 dias em uma plantação ilegal de maconha no Paraguai; miséria e corrupção marcam o cotidiano de um “Estado paralelo”, longe das agências policiais e facções criminosas.
9º. Lei expõe crianças a abuso
A lei de alienação parental, que deputado pretende tornar mais severa, abre brechas para que vítimas de abuso sexual sejam obrigadas a viver com pais suspeitos da agressão.
10º. Depois de muita lorota o jornalismo venceu
O jornalista Lucas Ferraz, que revelou o caso do aeroporto de Cláudio, descreve a campanha mentirosa contra a reportagem; grampos do processo contra Aécio Neves no STF mostram que a pista continua sob o controle do político.
Vídeos mais vistos
1º. Operação Barbárie
2º. Bala Perdida
3º. E agora, Temer
4º. Amor nos tempos do ódio
5º. O que é fact-checking
6º. Quanto vale um rio?
7º. Depois de Belo Monte
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9º. Não repara a bagunça
10º. Feridos pelo estado
Amazônia resiste
O projeto “Amazônia Resiste” é uma ampla investigação jornalística da Agência Pública sobre a resistência indígena em vários pontos da maior floresta tropical do mundo.
Sete equipes de reportagem irão retratar até maio de 2018 a partir de vídeos, textos, fotografias, infográficos e podcasts o que acontece em campo no Pará, Mato Grosso e no centro das decisões, Brasília – das aldeias às instâncias de poder relacionadas à realidade indígena.
Os protagonistas desta narrativa são os índios, especialmente a resistência que exercem diante de um quadro completamente desfavorável ao seu modo de vida.
Nova fase do Truco
Projeto de checagem da Agência Pública entrou em nova fase em 2017, com novo sistema de classificação e maior abrangência, para dar conta da avalanche de dados falsos. Abaixo algumas das checagens mais lidas no ano.
Corrente no WhatsApp mente sobre mudança no Imposto de Renda
De acordo com mensagem que viralizou no aplicativo, governo prepara decreto que “atinge diretamente a classe média”.
Bolsonaro não denunciou aumento de energia e gasolina
Mensagem falsa que circula no WhatsApp atribui a deputado federal alerta sobre reajustes que não vão acontecer.
Checamos o que o MBL diz sobre o regime semiaberto
Kim Kataguiri gravou vídeo feito para defender projeto que tramita na Câmara e acaba com essa forma de progressão de pena.
Microbolsas maconha
A Agência Pública lançou, em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes – CESeC, um concurso de reportagens sobre o tema. Os vencedores receberam apoio e mentoria durante quatro meses. Eis o resultado:
Microbolsas: um mês para propor pautas sobre maconha
Estamos em busca de reportagens que investiguem temas relacionados à maconha.
Os lados do Polígono da Maconha
Na região do sertão do São Francisco, moradores cercados por roças clandestinas convivem hoje com tráfico e repressão policial.
Óleo de maconha vira “farmácia clandestina”
Com aumento da demanda e falta de regulamentação, cresce no Brasil o mercado clandestino do óleo, usado no tratamento de diversas doenças; pacientes e produtores vivem na insegurança.
Interativos
Em 2017 a Agência Pública produziu ainda mais conteúdos interativos.
Jogo dos Infiltrados
O leitor tem que encontrar os infiltrados no meio da multidão para ler as reportagens sobre infiltrados da vida real.
Dos porões as agências de segurança privada
Documentos dos órgãos de inteligência da ditadura mostram violações de direitos humanos cometidas pelas empresas regulamentadas em 1969 e compostas por membros do aparato repressivo do regime militar.
Quiz da segurança privada
Reunimos os dados do setor. Teste seus conhecimentos.
Aplicativos
Desenvolvemos aplicativos para unir tecnologia ao jornalismo investigativo.
Os donos do ônibus
Mapa colaborativo da privatização dos espaços público
Museu do Ontem
Laboratórios na Casa Pública
Em 2017 foram realizados quatro laboratórios na Casa Pública reunindo artistas, jornalistas, desenvolvedores e designers para produzir reportagens multimídia em formatos inovadores.
Especial Vigilância
Especial Catraca
Série especial sobre os ônibus do Rio de Janeiro.
Especial Coleção Particular
Nesta série de reportagens, chegamos a pé ou de barco até praias fechadas, controladas e vigiadas pra revelar as disputas por esse bem que é de todos.
Conversa Pública
As Conversas Públicas fomentam a discussão sobre o jornalismo independente e inovador no Brasil e na América Latina. Foram realizadas 15 conversas ao longo de 2017. Destacamos três com grande repercussão.
Uma entrevista sobre os deslizes do jornalismo
Ombudsman da Folha e editor do Nexo são entrevistados 72 horas após a revelação da conversa pouco republicana entre Temer e o empresário Joesley Batista. No centro do debate: quando o jornalismo erra.
A cobertura política em tempos de crise
Entrevista com jornalistas do Estadão e Folha de S.Paulo analisa a cobertura em meio ao fluxo de informações da Lava Jato e o impacto das denúncias contra o presidente Michel Temer.
Entrevista traz análise e histórias de corrupção na ditadura militar
Aos 53 anos do golpe, a corrupção no período de exceção e a participação de grandes empreiteiras foi tema da conversa realizada na Casa Pública, no Rio.
Prêmios
As Conversas Públicas fomentam a discussão sobre o jornalismo independente e inovador no Brasil e na América Latina. Foram realizadas 15 conversas ao longo de 2017. Destacamos três com grande repercussão.
V Prêmio República
Vencedor categoria on-line: “Especial Amazônia em Disputa”
Prêmio Direito à Memória e à Verdade Alceri Maria Gomes da Silva
Menção Honrosa: Agência Pública
39º Prêmio Vladimir Herzog – de Anistia e Direitos Humanos
Vencedor categoria texto: “Especial Quilombolas” e Menção honrosa categoria artes: “A execução de Ricardo”
Prêmio Comunique-se 2017
Vencedora categoria jornalista empreendedora: Natalia Viana, co-diretora e repórter da Agência Pública
34º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo 2017
3º lugar: “Os Santos Perseguidos”
10º Prêmio Délio Rocha de Jornalismo de Interesse Público
2º lugar internet – Truco Eleições 2016
Além desses prêmios, a Agência Pública foi finalista do Prêmio Latinoamericano de Periodismo de Investigación com o Especial África. Também com os especiais 100 e Amazônia em Disputa foi finalista do Prêmio Petrobras e nomeada ao Prêmio Gabriel García Marquez.
Quem apoiou a Pública em 2017
Fundação Ford
Apoio institucional
Fundação OAK
Apoio institucional
Fundação Lafer
Projeto Investigando o Judiciário
Open Society Foundations
Museu do Ontem
Climate and Land Use Alliance, CLUA
Especial Amazônia Resiste
Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, CESeC
Microbolsas Maconha
1134 apoiadores do crowdfunding
Reportagem Pública
Google News Lab
Festival 3i