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Pentacampeão adota discurso de ‘rouba, mas faz na Copa’, se esquiva do extra-campo e se preocupa com a decadência técnica do futebol brasileiro

Reportagem
6 de julho de 2012
09:00
Este artigo tem mais de 12 ano

Na entrevista ao Copa Pública, Vampeta falou mais com seus silêncios do que com suas palavras. Fora de sua zona de conforto, das entrevistas em que desfila seus “causos” irreverentes e seu humor peculiar aos torcedores, o ex-jogador do Corinthians e da Seleção Brasileira não se mostrou muito por dentro das questões propostas pela entrevista, parte da série que convida atletas e ex-atletas a pensarem questões estruturais do futebol brasileiro à luz da Copa do Mundo. Vampeta foi reticente, apesar de marcar algumas de suas posições, mas levou a conversa a sério.

Um exemplo foi quando falou sobre a possibilidade de se cometer irregularidades e violações de direitos em nome de obras da Copa. “Os caras vão roubar de qualquer jeito mesmo, entendeu? Então pelo menos é bom que eles fazem algumas coisas e deixam”, disse, conformado. O pentacampeão mundial fugiu de algumas divididas, mas não deixou de apontar que é necessário uma atenção maior da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com relação ao futebol, ao jogo dentro de campo. “Só acho que falta gostar e dar um pouco mais atenção ao futebol, porque o Ricardo (Teixeira) não era fã, não dava tanta atenção para o futebol”, afirma.

O que você acha do Brasil sediar a Copa do Mundo?
Legal, pô. Modernizar os estádios, uma infraestrutura melhor. Eu sou a favor.

É possível mudar ou repensar algumas estruturas do futebol brasileiro com esse evento?
Acho que dá sim. Uma Copa do Mundo sempre deixa um legado legal. Em países que nem têm tanta tradição isso já acontece, imagina para nós. Então eu acho que vai ser uma Copa muito boa.

Se você fosse apontar um problema do futebol para ser mudado com a Copa do Mundo, qual seria ele?
Acho que só os estádios, melhores condições de vestiário….

Sei que você treinou times de categorias de base. Você acha que há muitos problemas na formação de jogadores e nas categorias de base do futebol brasileiro?
Acho que os clubes grandes investem bem na base. Porque Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, todos investem  para ter retorno na venda de jogadores. Mas podia melhorar mais.  Você vê como eles investem mas não aproveitam tanto [os jogadores da base]. Poderiam aproveitar mais um pouco, principalmente o Palmeiras, São Paulo, Corinthians, o Santos ainda usa mais um pouco.

A base poderia ser mais aprimorada fora desse eixo dos chamados clubes grandes?
Mas então: será que tem dinheiro? Eu posso falar mais sobre o Flamengo, o Vasco, o Corinthians, que tem uma renda maior. Para os clubes menores é mais complicado, eles têm de investir menos porque não têm dinheiro.

Você agora é coordenador técnico do Grêmio Osasco [time da Série A2 do Campeonato Paulista]. As condições de trabalho são mais restritas e difíceis?
Não, a gente tem uma condição melhor. O time lá tem os patrocínios, tem tudo de um cara que gosta muito de futebol.

Você está animado com as notícias que vêm saindo sobre os preparativos da Copa de 2014? Você se preocupa com algumas irregularidades que possam ser cometidas em nome do evento?
Não, não me preocupo com isso não. Se tiver, pelo menos fica um legado. Os caras vão roubar de qualquer jeito mesmo, entendeu? Então pelo menos é bom que eles fazem algumas coisas e deixam.

Você concorda com o modelo de financiamento do estádio do Corinthians, com dinheiro do BNDES e de isenção fiscal?
Acho que o estádio vai ajudar a desenvolver a Zona Leste, né. Esse é um atrativo. E depois o São Paulo tem um estádio que também foi feito assim. E outros estádios também tem [esse financiamento]. Acho que daqui a pouco o Estado pode conseguir esse dinheiro de volta, não sei.

Como você avalia os mandatários do futebol brasileiro: CBF, federações; COL e Fifa mais recentemente, etc? São pessoas que têm interesse no progresso do futebol?
Quem está lá pode errar, mas tem interesse.

Interesse próprio também?
Todo mundo tem interesse próprio em alguma coisa.

Falando um pouco agora sobre a Seleção Brasileira de 2002. Você acha que, olhando para o estágio em que a Seleção Brasileira está hoje, é possível ter esperança em um título em 2014? A situação atual é comparável à situação daquela Seleção, a dois anos da Copa de 2002?
Acho que se fosse hoje a Seleção não seria campeã, mas em dois anos tem muita coisa para acontecer. Mas com certeza a Seleção de 2002 tinha mais opções do que agora, mesmo a dois anos daquela Copa.

Faltam referências dentro de campo atualmente?
Os caras estão jogando tudo nas costas do Neymar agora né cara. E ele só tem 20 anos, aí fica difícil.

Que balanço você fez dos 23 anos de Ricardo Teixeira à frente da CBF?
Ele trouxe uma Copa do Mundo para o Brasil, vários títulos na base e no profissional, e tudo o mais.

Ficou algo da gestão dele a ser alterado para a gestão do Marin?
O Marin chegou agora, ainda não pode ser cobrado nada dele. Só acho que falta gostar e dar um pouco mais atenção ao futebol, porque o Ricardo não era fã, não dava tanta atenção para o futebol.

Acha que falta os jogadores se unirem mais para colocar suas pautas no centro da discussão do futebol brasileiro?
Lógico. Na Argentina, os atletas são muito mais unidos do que aqui no Brasil. Acho que falta isso sim: um pouco mais de união. Um ajudar e se preocupar com o outro.

Nos seus anos de carreira como jogador, qual foi o grande problema que você enfrentou?
Eu não. Sempre estive em time grande, sempre recebi bem. Mas os outros aqui no Brasil, que jogam em time grande aqui no Brasil e são bem remunerados, jogam cada um por si e Deus para os outros.

O que mudou na estrutura do futebol desde a época em que você jogava para hoje?
A qualidade, a qualidade em campo antes era muito melhor.

Qual o legado que o Vampeta espera da Copa de 2014?
Melhores estádios, gramados, infraestrutura nas cidades que vão sediar os jogos da Copa do Mundo e uma boa Copa, né?

 

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